Noitada
Lembras-te tu do sábado passado Do passeio que demos, devagar, Entre um saudoso gás amarelado E as carícias leitosas do luar? Eu sinto ainda a flor da tua pele Tua luva, teu véu, o que tu és! Não sei que tentação é que te impele Os pequeninos e cansados pés. E eu que busco a moderna e fina arte, Sobre a umbrosa calçada sepulcral, Tive a rude intenção de violentar-te Imbecilmente como um animal! Mas a noite dormente e esbranquiçada Era uma esteira lúcida de amor Ó jovial senhora perfumada, Ó terrível criança! Que esplendor! Nunca mais amarei já que não amas E é preciso, decerto que me deixes! Toda a maré luzia como escamas, Como alguidar de prateados peixes. E como é necessário que eu me afoite A perder-me de ti por quem existo, Eu fui passar ao campo aquela noite E andei léguas a pé pensando nisto. E tu que não serás somente minha, Às carícias leitosas do luar Recolhes-te, pálida e sozinha, À gaiola do teu terceiro andar!
(1879, Noitada de Cesário Verde sob o pseudónimo de Claúdio)
5 Comments
Paulo Bernardino
Julho 23, 2005 at 12:29 amPB
Adorei este poema!!, estás num bom caminho, continua a vir ao treinos….!!!
Cerepoli
Agosto 4, 2005 at 6:06 pmEntrei hoje neste teu Universo e espero encontrar tudo o que tens para nos dar. Parabéns pela escolha das cores e da simplicidade do teu blog…
Gostei muito do teu poema:)não sabia que tinhas este dom escondido em ti !
Continua e não nos deixes ficar sem “noticias” tuas.
Bj
nascidaontem
Janeiro 11, 2006 at 8:43 pmQualquer dia só comunicamos via teclado…
Talvez seja uma evolução,
antes ouvia-te,agora leio-te!
Gostei do teu blog … temos que o divulgar piquenita! Isto promete…
CunhaS
Novembro 7, 2007 at 11:21 pmThis comment has been removed by the author.
CunhaS
Novembro 7, 2007 at 11:22 pmVou-me deitar que estou a ficar com os pés frios. Boa Noite.