Menu
Letras e Literatos

Ando de mal com a poesia

“(…)Ando de mal com a poesia por me assustar, por me amaricar, por me atrasar, por me tirar da beira de quem sabe coisas muito exatas e conversa acerca das ciências e outros assuntos muito adultos. Fico de mal com a poesia porque me convence de ser arma contra todos os problemas do mundo quando o mundo progride nas doenças e não sou guerreiro nenhum armado com um verso.(…)Não há nada de normal na escrita de um poema, porque a poesia é toda ela uma tentativa de intensificar a expressão, uma tentativa de chegar ao modo perfeito de dizer, e a perfeição está definitivamente a distâncias planetárias da normalidade.(…)Os poemas nunca coincidirão com o autor, é verdade. Para mim, teriam de nascer esses poemas capazes de morrer para que fossem uma partícula legítima do que sou. Vou, já o sei, transformar-me na Margarida Ferra durante um tempo. A ver como a vida pode ser, a ver como poderia eu ser, ou como quereria. Por vezes, queremos ser outros, não para evitar sofrer, mas para sofrermos outras dores que não as nossas, por serem sempre as mesmas e nos cansarem.”

valter hugo mãe in Jornal de Letras 6 a 19 de Outubro de 2010

No Comments

    Leave a Reply