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Dói-me a barriga cada vez que olho para trás. Dentro do meu carro, vejo, pelo espelho retrovisor, a minha casa. Deixo ficar com ela o espaço das minhas coisas. Os meus braços deixam o volante, para darem umas últimas braçadas na piscina do EUL. Desligo o rádio para ouvir as vozes e gargalhadas dos comentários nos balneários. Olho, rapidamente para o chão, e reparo nas minhas pegadas pela cidade, tão marcadas, nas caminhas entre a Fontes Pereira de Melo e Entrecampos.À medida que avanço no tempo, aproximo-me de uma casa verde. No quintal um limoeiro. Lá dentro, um quarto azul, com uma cama de madeira. Há muitos cobertores, e uma manta cor de laranja de franjas por cima deles. O colchão é torto e faz uma cova no meio. A noite é escura e fria. E ouve-se um choro. Um choro baixinho e contido que vem sem eu dar conta. As manhãs, essas, têm um sabor a chá de camomila e a arrependimento.
A nova cidade onde estou tem pessoas felizes, que gostam de viver aqui. E eu, apesar de não gostar e de não ser feliz tenho a minha estrela. Aquela a quem Deus designou a tarefa de me seguir. Provavelmente, ter-lhe-à dito: “escolho-te a ti, por seres a estrela que melhor sabe cuidar. Aquela que acolhe nos braços, todos quanto precisam. Aquela que guia quem está perdido. E sei, que por mais difícil que seja a missão, tu a farás com a verdade, com a entrega e dedicação que não conheço em mais nenhuma estrela. Distribuí por todas elas o mesmo amor, e tu, não guardaste nenhum para ti. Preferiste partilha-lo. Por isso esse teu brilho, de quem faz da ajuda aos outros, a razão da sua própria existência.” E eu, só vou justificando a minha, pela existência desta minha estrela.
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