diz-me, tu que convives comigo na minha cabeça há tanto tempo, diz-me, diz-me que não é assim, e faz-me parar, ou então diz-me que é, prefiro que me digas que é, é mais fácil para eu lidar com isto, com isto que nunca ninguém compreende, a não ser eu., já que estás lá sempre para me por os pés no chão para me fazer seguir as merdas das regras e dos moralismos, e dos sacrifícios, ajuda-me agora também, e diz-me que me compreendes, quando desejo que me leiam, que me sintam e conheçam a minha forma de amar, que não tem nada de especial, a não ser que sofram, quando sofro, que só tenham olhos para mim, que me queiram, que me sufoquem e que não seja necessário dizer que o momento é agora, que coisa chata e repetitiva, que se socorram da telepatia que o amor fornece e oiçam o mais vibrante dos silêncios, o mais mágico dos poderes, maior que o dos Deuses, diz-me, porque estás com esse ar, a encolher os ombros, como se fosse um caso sem remédio, vá então diz-me a que te sabe o amor, quando tens a certeza que não estão lá para ti, quando estás, centrada, fixada, paralisada naquele sentimento que parece que vai saltar de ti a qualquer momento, só concebo o amor na reciprocidade, na solidariedade, na vontade comum, porque não sou mais flexível, mais racional, mais confiante?, porque a paixão tem uma linguagem própria, antagónica, um dicionário de intenções com significados complexos, é desprovida de instruções cerebrais, lineares, lógicas, senão que graça teria? onde ficaria a inspiração para Camões, Florbela…? e porque cantá-lo-ia Amália ? e como teria Orfeu convencido Hades a recuperar a sua amada? O amor é o desespero, a agonia, mas é “também é a vontade de estar preso”, o mais belo dos paradoxos, a mais permanente das catarses, “O meu amor, não eu, é egoísta”, entenda-se, entendes-me?
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